Ela era fofa e boa de cama ou pelo
menos tentava com seu jeito desengonçado. É verdade que por vezes, levava um
tempo para conseguirem arrancar dela aquela transparência nos lençóis, mas em
outras, estava dada desde o começo.
Gostava de deixar marcas, não somente
corpóreas. Não para ser vulgar, mas para ser uma boa lembrança.
Gostava de bancar a ingênua e também
ser a mestra do sexo ou do amor. Porque o sexo tem essas ramificações. A
selvageria, a doçura, o engolir o outro e depois soltá-lo como a fumaça de um
cigarro que é tragado até o filtro.
Hoje estava assim. Hoje não era amor,
não era sexo, era o sentir o outro, ser conduzida por poucas palavras e depois
despejar seu íntimo em alguém.
Quem ela podia escolher?
Tinha tantos candidatos para aquele
contato e quem queria não estava disponível. Escolhera a xícara de café e o
cigarro de sua carteira quase vazia. Seus três anéis descombinados,
caracterizando sua mão trêmula. Seu cabelo sujo, suas meias folgadas, a blusa masculina
relaxada sob o sutiã preto de ontem e o som rasgado de Aerosmith no discman,
tornavam nítida a desistência, o descuido consigo por não poder ter quem/quê
queria.
Embriagou-se. Estava derramando o café nos seus
papéis. Destruindo de maneira violenta, as coisas que tinha e que lhe davam
excitação. Davam-lhe motivos para desejá-lo.
Com a mão ainda inquieta e o coração chorando desejo,
cortava ele das fotografias. Ele, o cara das vontades. O estúpido que roubara
suas aspirações mais sacanas.
Ela queria sacanagem, queria apanhar, rasgar o corpo
dele e depois de quase devorá-lo, tomar banho ao seu lado e sentir a água
derramar amor sob suas almas.
Não gostava de masturbação. Achava ruim transar
consigo mesma. Até esse dia, em que o gosto dele enganava seu paladar e que seu
tato não alcançava o seu alguém.
Masturbou-se. E agora estava apaixonada por si. Fazia
“amor próprio” e atacava sexualmente seus potenciais lances da madrugada.
Amou-se. Para “sexuar” outro alguém.