sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Educação.


Marrie estava ao lado do seu menino, olhando para ele e dizendo a si mesma que tinha feito um bom trabalho. Yann a abraçava, derramando inúmeras lágrimas e dizia:
- Mamãe, cada lágrima que cai neste momento é um aplauso meu a senhora. Tenho aplaudido até hoje com meus sorrisos e meus textos, mas desculpe-me a fraqueza deste instante. E se lembre disso como um presente meu.
Marrie foi uma mãe diferente, apesar da sua triste educação, apesar de nunca compreenderem a natureza da pobre menina, cresceu com pensamentos firmes. Guiada por instintos muitas das vezes.
Paralelo ao nascimento do seu menino, veio a morte de um grande amor. E a agora a única coisa que sabia era que daria ao seu filho o contrário da educação que tentaram fazê-la engolir.
Quando completou seu três anos, o pequeno Yann ganhou seu primeiro livro. Era um livro de colorir. A senhora Marrie trabalhava muito para cuidar do seu menino, era uma mãe e uma operária esforçada. Mas mesmo com todo a exaustão do trabalho quando chegava em casa coloria os livros com giz de cera junto ao seu filho.
A senhora Marrie coloriu e escreveu a história do filho sem notar.
Aos poucos os anos foram passando e Yann já conhecia algumas palavras. Ao sair pela manhã, sempre havia um nova história ao lado do seu menino. História que ela escrevera. Posteriormente, foram deixados livros. E Yann os lia porque aprendera a gostar daquela sensação de descobrimento que se tem quando se lê.
Uma noite o garoto acordou, foi até sua mãe e disse:
- Como faço para usá-las? As palavras? Quero escrever, mamãe.
Marrie, levantou-se, pegou uma caneta, abriu a gaveta ao lado da cama e lhe deu junto a caneta, um caderno, com os textos que a príncipio escrevera para o menino e com páginas em branco para que ele escrevesse suas histórias.
 Fitou os olhos do menino e disse-lhe:
- Meu rapaz, agora posso dizer com plena convicção que crescera. Basta lembrar, que não há regra para escrever, não existem conselhos para isso que não partam do "sentir". Sinta Yann. Sinta.
Yann cresceu lendo os textos que escrevia, para sua mãe. Juntos ilustravam aquelas histórias. Decoravam a casa com as idéias uns dos outros. Yann via cada gesto de sua mãe enquanto lia para ela seus contos e olhava como se retirasse dali toda inspiração.
Eram amigos um do outro. Amizade na forma mais leal e sincera.
Chegara a hora de Marrie, Yann terminara seu primeiro livro na noite anterior. Sua mãe estava indo, mas nas ilustrações, na decoração da casa, na intimidade de Yann e em cada palavra sua, ela estava presente, eternizada.
Marrie disse pela última vez:
- Sinta filho, sinta.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Perdão.


Bem, este é um pedido de desculpas. Peço desculpas por aqueles dias em que tiveram o maravilhoso prazer de me encontrar quando levantei com o cabelo bagunçado, tendo que sair apressada para a escola. Pelos dias em que tudo parecia estar bem para os outros e eu queria socar alguém, independente de quem fosse a pobre vítima. Pelas manhãs lindas em que o sol raiava e as flores gritavam seus perfumes e eu parei no ponto de ônibus esperando o mesmo chegar e ao entrar não os disse "bom dia!''. Pelas noites frias em que me recusei dormir ao lado de minha mãe, pelas vezes que eu vi pessoas que precisavam desabafar, falarem comigo e me mantive distraída com o olhar na lua. Pelas vezes que bati a porta do apartamento desejando que ele pegasse fogo enquanto eu estivesse fora. Por desejar sair do lugar em que me acolheram, por dar minha palavra que não iria mais passar por lá. Por me deslechar em coisas importantes. Por querer mostrar que sei algumas coisas e com isso parecer esnobe, por mentir dizendo que não sei fazer coisas simples, por pura preguiça. Por não ter olhado as coisas pelo coração dos outros, por ter machucado pessoas que me amam, por não amar algumas delas. Por mentir. Por persuadir. Por sorrir. Inclusive por sorrir, sorrir nos momentos mais improváveis. Por gargalhar na hora do desespero. Por me desesperar. Por ter pressa pra minhas coisas e enrolar nas coisas alheias. Por conversar demais e por vezes negar uma palavra de conforto. Por contar minha história e não ler nem a sinopse da vida de muita gente. Por negar ouvir outro alguém e conversar comigo mesma em frente ao espelho. Por escrever muito e depois queimar vestígios e acabar não dividindo boas coisas com ninguém. Enfim, o ano está acabando, não sei como estará o tempo no dia 1º , mas prometo que mesmo que muitas destas atitudes continuem e mesmo que o dia pareça o pior para mim, direi sempre 'bom dia a todos'. E um ótimo ano desejo agora.

Cobertor.


Andando pelas vielas de Paris, com a temperatura mais fria para seu corpo que para o de qualquer parisiense e com as gotas de chuva emendado-se as lágrimas, estava o senhor Frainz.
Voltava para casa naquela noite, pensando em como as coisas andavam sem sentido, pensava que devia chegar em casa e encontrar Adeline, tomar seu café forte e doce e participar da sua recepção carinhosa, mas Adeline não estava mais sob o alcance dos seus olhos.
A dor da saudade gritava dentro de Frainz, ele arremeçou o jornal que estava em meio aos seus braços - ali não havia notícias que pudessem trazer sua melhora, ali não estava uma carta vinda de Adeline, dizendo que estaria de volta logo. Sabia que quando chegasse em casa, não a encontraria, aumentou seu caminho, na esperança de minimizar a lembrança, fez-se frio e pensou que em casa normalmente era aquecido pela presença de sua Adeline. Há vinte anos não era essa sua rotina.
- Preciso acabar com isso, nada faz sentindo sem a Adeline. Nada.
Estava tentando jogar tudo fora.
- Acabou.
Recomeçaria sua vida, daria sentido a si mesmo, faria seu próprio café e estaria aquecido com a lembrança de Adeline, apenas a lembrança e não a dor que ela deixou.
 O sol raia em Paris, sua vizinha, uma senhora um tanto cordial, sempre ia cedo a sua casa, levar-lhe pães e perguntar se tudo estava bem, ao entrar esta manhã encontrou o senhor Frainz, sentado em sua poltrona, nu, com o corpo gélido, que sinalizava uma hipotermia. O senhor Frainz se foi, Adeline não pode aquecê-lo. Adeline estava fria a vinte anos.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Alienação.


Eu tenho pensado em como será de agora em diante. O tempo me trouxe bens que eu sempre achei que tivesse perdido por completo. A felicidade pinta o horizonte do meu céu e me trás a capacidade de doar minha alegria a qualquer pessoa que apareça neste momento em minha vida. Eu posso escutar qualquer clamor, qualquer dúvida, sou neste momento quase um Deus e não estou desprezando a capacidade dele não, estou salientando a minha, esta é a verdade. Não tenho como forçar a modéstia aqui.
Não tenho escrito já faz algum tempo, mas não por falta de experiências, neste tempo que me dei estava reconstruindo meu intelecto, lendo (a leitura sempre foi a melhor forma de crescer) e conheci mundos novos, maravilhosos, que me ajudaram a criar uma nova imagem de mim. E não essa imagem externa que é fácil de ser alterada, não, uma imagem importante que como diamante tem que ser lapidada, cautelosamente delineada. Porque esta nos segue por todo caminho que fazemos, por onde quer que andemos.
Sinto que meu espirito está mais longe de meu corpo, trazendo uma leveza e uma certa alienação que tem sido saudáveis. A minha indisciplina em relação a mutação comum me tornou incomum, me tornou mutante descontrolada, muto. Muto meus medos, meus ideais, meus sonhos e eles mutam minha vida. O caos já não faz parte de mim, o medo está mais ameno, os sonhos mais próximos, a independência emocional, chegou.