sábado, 3 de março de 2012

Não basta ser o sol, é preciso compartilhar o brilho.



Ela começara arrancar sua roupagem desde sua cidade, desde que inspirou a coragem dos transeuntes presentes e entrou no ônibus que seguia para o desconhecido. Ficaram ainda algumas peças de roupa, alguns subterfúgios e coisas que a escondiam. Umas estavam fixadas nela, outras no maleiro do ônibus.
Foi um longo caminho, uma viagem que antes parecia pura insanidade e agora era uma viagem para dentro de si. Oito horas de viagem e o cansaço não a impediu de abraçá-lo, de sentir-se amada, de amar, tampouco de respirar a cordialidade daquele ambiente.
Estavam um sob o outro e agora ela de despira por completo. Com sua roupa, iam para o chão as muralhas de sua alma. Estava nua e gritava sem nenhum temor. Gritava! Seu corpo e sua alma regiam aquela música de amor. Era música, amor... Era um grito de amor!
Nas malas (que ela evitava enquanto podia), outros escudos, outras máscaras. Outros. Não ela. Ela estava ali, escrevendo nele e tatuando em sua alma aquela poesia.
Ele estava ali, pintando nela. Pintando aquele quadro branco que surgira naquele renascimento. Ele a coloria de amor. Tomava-a de afetividade, tomava-a para ele.
E tudo que ela sentia de bom, queria atirar nele.
Chorou durante o sexo. Chorou porque queria se derramar nele, embriagá-lo com ela. Queria pulsar nele, ser um pedaço qualquer daquela vida.
Estava acabada sua busca, sua procura por lar, por amor, por si. Acabara sua luta contra o físico. A poesia vencera. Era o encontro de duas almas nuas, entregues. Um sonho do qual não acordara. Ela o amava. Ele era o amor.

" Mesmo a ausência dele, já é uma coisa que está comigo." [Fernando Pessoa]